Adalice Araújo

Cassiana Lacerda

Fernando Bini

Fernando Velloso

José Carlos Cifuentes

Maria José Justino

Nilza Procopiak

Sérgio Kirdziej


Emoções Abstratas

O abstracionismo, desde que oficialmente trazido à luz por Kandinsky, tem conquistado mentes e
corações em épocas e locais diversos. Chegou ao Paraná em meados do século XX, nas experimentações estéticas de Werner Jhering, Fernando Velloso e Loio Pérsio, entre os mais lembrados.
Das duas grandes vertentes do abstracionismo, a expressionista e a geométrica, tivemos por aqui a predominância da primeira.

Essa geração inicial de abstratos passou pela influência de Guido Viaro, mestre expressionista figurativo que parece ter deixado bem marcada nos alunos a veia sanguínea emocional, que desembocou no expressionismo. O cerebral, que resulta no geométrico, surgirá em Curitiba um pouco mais tarde.
Pelo início dos anos 60, uma segunda leva de abstracionistas gravitava em torno da Escola de Música e Belas Artes, da Galeria Cocaco e dos grupos do Círculo das Artes Plásticas e da “Garaginha”. Entre outros: Helena Wong, Violeta Franco, João Osório Brzezinski, Antônio Arney e Fernando Calderari. Era uma estimulante época de rupturas políticas, intelectuais e estéticas, quando se abriram os mais diversos caminhos para serem trilhados por todas as capacidades e competências. Nesse cadinho decantou-se a experiência de Fernando Calderari, artista de múltiplas habilidades que desenvolveria uma das substanciais obras abstratas de nossa terra, mesmo que depois tenha retornado ao figurativo. Fernando Calderari, nas décadas em que esteve dedicado ao ensino das artes, principalmente na EMBAP, propiciou a gerações de alunos o ingresso nas glórias e agruras do abstracionismo, embora nunca esquecesse o lado mais acadêmico e figurativo.

Terminada a década de 70, emergiu de suas orientações um grupo de novos artistas comprometidos com a linguagem abstrata, artistas esses na época absorvidos pela técnica da gravura na recém-criada Casa da Gravura do Solar do Barão. Aí tivemos, dentre os mais destacados, Uiara Bartira, Jussara Age e a própria Guilmar Silva.

A mostra atual constitui, portanto, parte de um já longo processo de experimentações coletivas que vão eclodir nas várias soluções individuais.
Guilmar Silva apresenta, aqui, sua produção mais recente, fruto de uma energia pessoal atuante e que procura nas várias possibilidades do expressionismo abstrato sua melhor forma de manifestação. Embora a técnica-mor seja pintura em acrílico sobre tela, vemos alguns trabalhos quase monocromáticos, resquícios sem dúvida das experiências com a gravura. Outros há em que a artista deixa sobrepor-se ao desenho a linguagem da pintura, num gestual largo e energético que deposita a tinta de maneira empastada sobre fundos mais ralos e dissolvidos, procurando na força do gesto e na variação das texturas o efeito expressivo. Em outros trabalhos, ainda se nota a preocupação com a cor, esta sim a mais legítima intérprete da competência do pintor.

Embora tenha exercitado anteriormente uma pintura de tons basicamente baixos, a artista parte de uma experiência forte em desenho e gravura, e neste momento, retornando à cor, faz uma transição tônica para a linguagem da pintura. Quem passou por esta vivência sabe que ela não é fácil, pois implica uma profunda mudança de atitudes em relação à mensagem, ao meio e à matéria.

Isso fica evidente no trabalho de Guilmar quando notamos variações na técnica e também na inspiração, que vai de um abstrato puro e ameno até um gestual mais energético, passando por um vago surrealismo, ora mais equilibrado, ora exorcizando figuras teratológicas e chegando a delicados arabescos siderais. De qualquer forma, é uma obra de fôlego que aponta para a conquista de um estilo pessoal que realizará o potencial criativo da artista.

Sérgio Kirdziej
Inverno de 2001.